sábado, 15 de outubro de 2011

Zé's-ninguéns.


"Aqueles que jogam as primeiras pedras, aqueles que vêem o cisco no olho do vizinho mas não vêem a trava que está no próprio olho, aqueles que têm telhado de vidro mas atiram pedras no do vizinho, aqueles que fofocam e criam rumores assassinos, aqueles que jogam a polícia e os juízes e os cães e a multidão e os psiquiatras e os educadores nas pegadas do vagabundo, do judeu, do negro, do imigrado e do marginal, e aqueles que proclamam em grandes berros místicos suas furibundas ‘verdades’ religiosas, políticas, científicas e todos aqueles incontáveis ‘zé-ninguéns’ que seguem em coro - de igreja, de partido ou de seita - os ‘fuhrers’, aglutinando-se e fazendo-se multidão, esquecendo-se em sua porção de Sombra, para saborear a calúnia, criar o rumor, veicular mentira e difamação, constituir as tribos de aclamação, alimentar as fogueiras, correr para o linchamento e, de todo o coração e com toda a boa intenção, assegurar a boa administração dos asilos, das prisões e dos ‘campos de concentração’, os salvadores do país, que querem o bem do povo, sabendo o que é melhor para ele, e a massa imensa e pretensamente silenciosa que baba jogando as últimas pedras, eis algumas das figuras da pestilência caracterial-social que W. Reich descreveu e contra a qual lutou até a morte como ‘peste emocional’, que acabou por matá-lo".

, Dadoun (1990; p.156).

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